Empresa produz fertilizante orgânico a partir de minhocas e dejectos bovinos

4 de janeiro de 2023

A adopção de práticas sustentáveis e "amigas do ambiente" na agricultura, e não só, tem sido uma das maiores preocupações no mundo, actualmente. A introdução e o uso de insumos orgânicos têm merecido maior atenção, tendo como finalidade não só a conservação e preservação do meio ambiente, mas também a saúde humana.

É nesse sentido que, em 2019, foi criada na cidade da Matola, província de Maputo, a Húmoz, Fertilizantes de Moçambique, uma empresa de produção de fertilizantes orgânicos como forma de suprir o défice existente no mercado.

"Procurámos, no mercado, fertilizantes orgânicos para o consumo próprio e percebemos que não tínhamos nenhuma empresa de produção ou de fornecimento. Por isso, decidimos criar a Húmoz Fertilizantes de Moçambique", explicam Junquer Dembo e Joana Dias, engenheiro químico e gestora comercial e de Marketing da empresa, respectivamente.

A produção do fertilizante é feita através do processo de vermicompostagem, que consiste no uso de minhocas para a compostagem de um substracto obtido a partir de dejectos de gado bovino.

Os dejectos são fornecidos por produtores dos distritos da Manhiça, Boane e da Catembe, onde são recolhidos periodicamente. Posteriormente, passam por um processo de retirada de impurezas antes de serem submetidos ao processo da vermicompostagem e serem misturados com as minhocas, que são importadas de Portugal e do reino de eSwatini.

Essencial na nutrição das plantas, este fertilizante pode ser usado em todo o tipo de culturas, desde hortícolas, frutíferas, pastagens, cearas, incluindo jardins.

Primeiros passos da empresa

À semelhança de muitas empresas, a Húmoz Fertilizantes de Moçambique enfrentou alguns desafios na sua fase inicial, com destaque para o manuseio das minhocas.

"Foi difícil porque foi a nossa primeira experiência. Primeiro por ser nova e, segundo, por estarmos a trabalhar com seres vivos. É muito difícil levar um ser vivo de um habitat para o outro. A informação que tivemos é de que era difícil produzir o húmus. Entretanto, depois de várias experiências, chegámos à fórmula ideal".

O outro obstáculo está ligado à comunicação com a população. Junquer Dembo e Joana Dias consideram haver falta de percepção em relação ao uso e benefícios dos fertilizantes orgânicos, em particular, e da prática da agricultura biológica, no geral.

Para ultrapassar esta barreira, apostaram na distribuição do fertilizante nas comunidades, e os resultados foram positivos e encorajadores, até ao ponto de procurarem fornecer o produto aos retalhistas.

Mas não consideram esta uma batalha vencida, pois a consciencialização da população sobre o uso de produtos naturais ainda faz parte das suas prioridades. Neste sentido, pretendem criar campanhas de comunicação para a divulgação das vantagens da agricultura biológica.

"O nosso mercado é bom e há espaço para a disseminação desta prática. O que falta, na nossa opinião, é mudar a percepção das pessoas pois acham que só é melhor o que é químico, quando é o contrário. O biológico é bom para o solo e para nós que consumimos os alimentos", afirmam.

Clientes

Com sete colaboradores directos, a Húmoz Fertilizantes de Moçambique é responsável por todo o processo, desde a produção, rotulagem até à embalagem do fertilizante.

Os principais clientes são três grandes cadeias de venda de produtos agro-pecuários, para além de particulares, mas o objectivo é fazer chegar o produto aos retalhistas, assim como colocá-lo no mercado internacional.

Este "sonho" constitui um desafio uma vez que o mercado nacional ainda usa muitos agro-químicos, maior parte dos quais importada da vizinha África do Sul.

A propósito, este aspecto tem estado por detrás da recusa de muitas empresas e lojas em comercializar o fertilizante produzido pela Húmoz, Fertilizantes de Moçambique. "Acham que só é bom o que vem de fora, e não o que é nosso. Já tentámos introduzir o nosso produto nesses locais, mas as portas não nos foram abertas".

Benefícios do fertilizante

O maior objectivo dos praticantes da agricultura química é obter maior produção e produtividade, quando a agricultura biológica visa não só garantir alimentos de qualidade e saudáveis, mas também promover práticas sustentáveis, com um impacto positivo nos ecossistemas agrícolas.

Ou seja, "ao promover a agricultura biológica, estamos a assegurar que não haja poluição dos solos e das águas, assim como garantir maior promoção da biodiversidade", sublinham Junquer Dembo e Joana Dias.

É que os fertilizantes orgânicos apresentam uma excelente qualidade em termos de composição de elementos primordiais para o crescimento de uma planta, nomeadamente nitrogénio, potássio e fósforo.

"Para além da contaminação dos solos, o uso intensivo dos fertilizantes químicos traz um desequilíbrio. Isto é, trazemos algo artificial para o solo e para a planta. O ciclo de vida de crescimento de uma planta acaba por entrar num processo de bioacumulação pois estamos a levar pesticidas para o seu organismo e, consequentemente, para o consumo humano", destaca o engenheiro químico da empresa. “Mas quando usamos os fertilizantes biológicos, estamos a respeitar este ciclo da planta, naturalmente".