PME fabrica fogões de baixo consumo e amigos do ambiente

4 de janeiro de 2023

O aumento progressivo das temperaturas nas últimas décadas, causado pela emissão de gases de efeito estufa, tem estado na origem da ocorrência cada vez mais frequente de eventos climáticos extremos, tais como secas severas, ciclones, cheias, entre outros.

Para conter o aquecimento global, diversos intervenientes (países, organizações da sociedade civil, ambientalistas, entre outros) têm advogado a redução das emissões destes gases para a atmosfera, através, por exemplo, do abandono dos combustíveis fósseis ou da busca de equilíbrio na utilização dos recursos naturais por via da adopção de hábitos e práticas sustentáveis para minimizar a exploração do meio ambiente e a poluição.

É neste âmbito que surge a MozCarbon (Mozambique Carbon Initiatives), uma empresa que se dedica à concepção e implementação de iniciativas de geração de créditos de carbono, nomeadamente soluções de cozinha limpa, sistemas solares domésticos e projectos florestais (incluindo o REDD+ e a melhoria da gestão florestal e reflorestamento).

Criada em 2011, ano em que iniciou as suas actividades, a MozCarbon implementou, numa primeira fase, iniciativas de redução de emissões de gases de efeito estufa através de projectos florestais para a geração de créditos de carbono.

Na altura, não havia enquadramento legal para iniciativas do género. Por isso, "decidimos abraçar novos projectos na área ambiental e de créditos de carbono. Apostámos nos fogões a carvão melhorados e temos vindo a crescer. No princípio, importávamos os fogões, mas agora fabricamos internamente. Hoje, somos líderes nesta solução e, inclusive, apoiamos outras iniciativas", conta Zaida Botão, gestora de Marketing e Vendas da MozCarbon.

Instalação da fábrica de fogões

Este ano é considerado histórico para a MozCarbon, que logrou montar e inaugurar uma nova unidade fabril, que por sinal é a maior no país, na produção de fogões a carvão melhorados.

Localizada no município da Matola, província de Maputo, a unidade fabril tem uma capacidade actual instalada de produção mensal de 10 mil fogões melhorados e conta com 30 colaboradores. O volume de vendas mensais situa-se nos 60%, ou seja, seis mil fogões.

Os fogões a carvão Mbaula Poupa+ têm duas componentes principais: metálica (alumínio) e cerâmica. Uma parte das peças de alumínio é obtida localmente e a outra é importada. A matéria-prima (argila) usada para a produção da componente cerâmica é adquirida nas províncias de Inhambane e Maputo.

Principais clientes

Para além da unidade fabril, a MozCarbon possui uma equipa de promotores de venda, que são responsáveis pela comercialização dos fogões Mbaula Poupa+ nas zonas rurais, urbanas e periurbanas.

"Isso permite que o produto chegue ao consumidor final sem custos acrescidos. Para além disso, é importante termos os dados correctos dos clientes para podermos fazer o devido acompanhamento ou aferir o grau de satisfação do mercado. Usamos, para tal, as chamadas telefónicas", explica Zaida Botão.

A MozCarbon conta com um total de 70 colaboradores directos e 300 indirectos, dos quais 75% são mulheres. "Os indirectos (promotores) são a nossa espinha dorsal. Eles é que asseguram as nossas vendas".

Foco na região Sul

As famílias de baixa renda constituem os principais clientes da MozCarbon, que actua, por enquanto, na zona Sul do País (Maputo, Gaza e Inhambane), tendo um plano de expansão para a zona Centro do País (Manica e Sofala) prevista para o segundo trimestre do próximo ano.

"Quando implementávamos os projectos de sistemas solares domésticos, actuávamos não só na zona Sul, mas também no Centro", frisa a gestora de Marketing e Vendas da MozCarbon.

Impacto

Ao usar os fogões Mbaula Poupa+, as famílias poupam cerca de 60% do orçamento destinado à compra de carvão, lenha ou energia para cozinhar, permitindo que o valor poupado seja direccionado a outras necessidades.

Os fogões contribuem, igualmente, para a redução dos fumos e, consequentemente, da incidência das doenças respiratórias, que são uma das principais causas de morte em Moçambique.

"Através dos nossos fogões, reduzimos em pelo menos 50% o consumo de carvão vegetal, e, por via disso, o abate de árvores e a desflorestação. Até 2021, tínhamos reduzido as emissões de carbono em cerca de 384 mil toneladas", sublinha.

Para além do impacto ao nível do ambiente, a MozCarbon contribuiu para a criação de mais de 50 empregos indirectos, através das parcerias estabelecidas na área de produção.

Desafios

A "falta" de consciência ambiental é, para a MozCarbon, um obstáculo a transpor, o que exige maior atenção e mais investimentos e apoios por parte de todos os intervenientes do sector.

"É necessário que haja uma educação contínua para que as famílias compreendam a importância, por exemplo, da cozinha limpa (através dos fogões melhorados), do uso de sistemas de energia limpa e da protecção do meio ambiente, em geral", considera Zaida Botão.

Entretanto, as perspectivas são boas porque "tem aumentado o interesse pela área climática, incluindo a redução das emissões de gases de efeito estufa. Começam a surgir apoios e espera-se que haja um rápido crescimento das organizações que actuam no sector, como é o caso da MozCarbon", segundo observa.