Piripíri rende seis mil dólares ao agricultor por ano

8 de dezembro de 2022

Além de gerar uma renda média anual de cerca de seis mil dólares norte-americanos a dezenas de pequenos e médios agricultores dos distritos de Marracuene, Manhiça, Moamba, Boane, Namaacha e Matutuine, na província de Maputo, o piripíri produzido pela Maxamba, uma Pequena e Média Empresa (PME) moçambicana, conquistou o mercado mundial ao chegar às mesas de mais de 1.300 estabelecimentos da cadeia de restaurantes Nando´s, em 36 países.

Não é por acaso. O consumo do piripíri promove o alívio de dores, do desconforto,da perda de peso e o sono mais tranquilo. Cria uma sensação de bem-estar, melhora a tensão arterial, reforça o sistema imunológico, melhora a saúde da próstata e previne o envelhecimento precoce.

A Maxamba foi criada em 2019 e mantém um vínculo comercial com a famosa rede luso-africana de restaurantes, Nando’s, especializada em frango marinado no molho feito à base de piripíri de origem nacional.

A ideia da criação da cadeia de restaurantes Nando’s surgiu em Moçambique. Um dos fundadores passou a sua infância em Maputo, onde se inspirou nas mulheres que vendiam frango assado na praia, para criar o frango com piripíri, hoje, um dos pratos mais apreciados no mundo.

“Com a cadeia de restaurantes multinacional robusta e implantada em vários países, os fundadores sentiram-se na obrigação moral de contribuir, de alguma forma, para o desenvolvimento de Moçambique, investindo na produção do piripíri, no distrito de Marracuene, envolvendo os pequenos e médios agricultores locais”, contou Gerson Daniel, gestor de produção da Maxamba.

Assim surgiu a Maxamba, que explora, em Marracuene, uma área de 10 hectares, cujo processo de produção está estruturado em três componentes, nomeadamente a produção interna, que ocorre na farma da empresa. A segunda componente de cariz social, envolve perto de 50 jovens, que beneficiam de formação em língua inglesa e noções básicas de gestão e desenvolvimento de pequenos negócios.

“Atribuímos-lhes espaços de cultivo por um período de um ano, cuja produção é adquirida pela Maxamba. Findo esse período, eles decidem se querem continuar no projecto ou não”, explicou Gerson Daniel.

Um dólar por quilograma

A última componente é constituída poragricultores subcontratados:“Neste momento estamos a trabalhar com cerca de 40 produtores, neste modelo, em cerca de seis distritos, designadamente Marracuene, Manhiça, Moamba, Boane, Namaacha e Matutuine. Cada agricultor explora, em média, um hectare de cultura e produz, no mínimo, seis toneladas de piripíri”, disse, Gerson Daniel, ressalvando que os campos têm potencial para produzir até 12 toneladas por ano.

As seis toneladas de piripíri são adquiridas aos agricultores pela Maxamba à razão de um dólar por quilograma, o que corresponde a uma receita média de seis mil dólares anuais por agricultor.

Nesta empreitada, conforme explicou Gerson Daniel, a Maxamba tem usa piripíri da variedade ABE (African Bird Eye – Battelur), que permitem produzir piripíri com características específicas, desde a cor, textura,sabor e um alto nível de picante (capsaícina).

“Após a produção, o piripíri é seco através de um secador eléctrico e em seguida exportado para a África do Sul, onde é processado em molho. O nosso piripíri tem cerca de 60 a 90 mil capsaícina. É considerado muito picante, o que possibilita a produção de molhos médios e menos picantes”, enfatizou.

Desde o início do projecto a esta parte, a Maxamba tem experimentado um crescimento exponencial. No primeiro ano (2019) produziu cerca de 45 toneladas de piripíri fresco,o que corresponde a cerca de 15 toneladas de piripíri seco. No anoseguinte, arrecadou cerca de 80 toneladas de piripíri fresco, o que corresponde aproximadamente a 30 toneladas de piripíri seco, e, na campanha de 2021, fez cerca de 200 toneladasde piripíri fresco, o equivalente a 45 toneladas de piripíri seco.

“Este ano tencionamos aumentar a produção em 50 por cento, para fazer 300 toneladas de piripíri fresco, correspondentes a 65 toneladas de produto seco”, destacou.

Crescimento exponencial

O projecto, que conta com 65 trabalhadores efectivos, ambiciona, ainda, atingir, dentro de quatro anos, 600 toneladas de piripírifrescoo que corresponde a 200 de piripíri seco.

A intransitabilidade das vias de acesso aos campos de cultivo constitui parte dos principais desafios ao negócio, situação que se agrava, sobretudo, nas épocas chuvosas. Esta situação tem estado na origem de avultados prejuízos para o projecto, resultantesda danificação de viaturas, entre outros aspectos adversos.

Acresce-se a este prejuízo, as dificuldades que se verificam no processo de legalização dos produtores: “Os agricultorestêm a obrigação de constituir empresas, para poderem transacionar com a Maxamba e, assim, cumprir com as obrigações fiscais, pois, na sua maioria realizam transações superiores a 200 mil meticais”, explicou.

Acontece, porém, que o processo de tramitação do expediente para a constituição de uma empresa não tem sido flexível emtodas as administrações distritais, o que prejudica o fluxo normal do negócio.

“Isso acaba por prejudicar à empresa, assim como aos agricultores, uma vez que, para a Maxamba transaccionar com um agricultor informal, tem que pagar ao Tesouro 20 por centoacima do valor do produto pago ao produtor”, concluiu.