Um exemplo de crescimento e inspiração da mulher moçambicana

5 de abril de 2022

Por ocasião do Mês da Mulher Moçambicana, trazemos estórias de mulheres que acreditaram nos seus sonhos, venceram o preconceito, ousaram empreender e hoje se destacam nas áreas em que actuam.
Mais do que celebrar e enaltecer os seus feitos, pretendemos, com esta iniciativa, estimular as demais mulheres a acreditarem que É Possível transformar os desafios em oportunidades!

DESIGNER CRIATIVA E ARTESÃ PAULA CUNA

Criatividade, perseverança, dedicação e talento são algumas das marcas da trajectória da empreendedora e designer moçambicana, Paula Cuna, um exemplo de crescimento e inspiração da mulher moçambicana.

Trabalhou durante sete anos consecutivos, em Maputo, como funcionária bancária, até que, em 2011, fixou residência em Luanda, a capital angolana, onde se dedicou à actividade doméstica, sem se desfazer da capacidade de dar asas à imaginação.

Foi a partir deste país lusófono que ela fundou a Uzuri Atelier, uma empresa que produz acessórios de moda e vestuário étnico virado para a moda africana, confecionado com base na capulana, como forma de enaltecer a cultura e a beleza africana, bem como os símbolos culturais nacionais.

Tudo começou mesmo em Angola, quando as dreads que a designer usava começaram a se desfazer, por falta de um cabeleireiro que soubesse cuidar devidamente delas. Apesar disso, não as cortou.

Para disfarçar o mau aspecto do cabelo, Paula Cuna recorreu aouso do lenço: “Após assistir a vários vídeos no YouTube, identifiquei diversas formas de amarrá-lo e escolhi a mais fácil”, lembrou.

Assim foi, até que, pouco tempo depois, criou o primeiro turbante Uzuri, inspirado num turbante brasileiro: “É um lenço aprimorado e com uma armação que permite enrolar várias vezes na cabeça”, contou Paula Cuna.

Posto isto, ela pediu à mãe, que se encontrava em Maputo, a confeccionar o inovador turbante, bandanas, faixas para cabelo da marca Uzuri e, posteriormente, enviar para Angola.

Imensurável valor da capulana

Nessa altura, a designer já estava a desenvolver o gosto pela capulana, sentimento estimulado pela sobrinha, brasileira, ao chamar-lhe à atenção sobre a forma, supostamente, indecorosa, como a capulana era usada em Moçambique, ofuscando o imensurável valor cultural deste tecido.

“Esta observação tocou-me bastante, razão pela qual passei a interessar-me pelas estampas da capulana, seu significado, bem como a inspiração das pessoas que desenham as estampas das capulanas. Comecei a adquirir capulanas, num enorme armazém, localizado no mercado São Paulo, em Luanda. Enviava-as a Maputo para venda e produção de turbantes, faixas e bandanas para adornar o cabelo”, disse.

Entretanto, a mãe, inquieta, questionava, invariavelmente, sobre a razão que teria levado a designer a criar, primeiro, a marca Uzuri, antes de definir os artigos que constariam da linha de produção: “Eu já tinha idealizado que devia fazer algo grande, não um pequeno negócio. Analisando todo o percurso, imaginava que havia muita coisa por detrás da repentina paixão e interesse pelo turbante. Eu tinha que desvendar esse mistério”, afirmou.

No decurso deste exercício, em 2015, a convite do marido, a estilista teve a oportunidade de assistir a um carnaval, no Brasil: “Foi lá onde tive a inspiração para criar e definir qual seria a essência da marca Uzuri. A ideia era produzir acessórios de moda que identificassem especificamente Moçambique. Corri atrás disto e, em Fevereiro, começou a minha trajectória de empreendedorismo, baseada no meu propósito de vida”, frisou.

As frequentes participações da designer em eventos públicos, nomeadamente feiras nacionais e internacionais, festivais, concertos, e ainda através de iniciativas individuais, entre outros, serviram para expor os artigos da marca Uzuri.

Rapidamente, o mercado percebeu que não se tratava de acessórios tradicionais ou comuns, situação que propiciou a expansão da sua comercialização pelos mercados nacional e internacional.

Avassaladora conquista de mercados

A primeira grande participação da Uzuri ocorreu numa feira para mulheres, realizada, em Abril de 2015, numa luxuosa estância hoteleira, em Maputo. “A taxa de participação neste evento era elevada. Apesar disso, decidimos expor e vendemos todos os artigos que levámos ao certame”, referiu.

Na altura, a marca Uzuri já contava com uma diversificada gama de produtos, como colares em capulana, carteiras, brincos, pulseiras, turbantes, anéis, chapéus e cintos. Todos com estampa de capulana.

Seguiu-se a participação no Festival Azgo, cujas fotografias viralizaram na internet. “Passamos uma semana a produzir peças porque precisávamos de alcançar todas as mulheres que fossem ao festival”, indicou.

Daí, a Uzuri decidiu atacar alguns mercados de países vizinhos, como o do Reino de e-Swatini e o da África do Sul. Na sequência disso, o consulado moçambicano em Durban convidou a Uzuri Atelier a participar do Essence Festival, um dos maiores festivais de África e América.

Em 2017, a Uzuri fez-se, igualmente, presente no African Designer Show, evento anual, que acontece durante o mês de Outubro, no Parque das Nações, em Lisboa, Portugal. “Esta foi a primeira passarela da Uzuri, na qual arrasou com a colecção Xirilo (pranto, em português)”, enfatizou.

A Uzuri foi, por duas vezes consecutivas, premiada como melhor estilista no Mozambique Fashion Week, o maior evento anual de moda nacional.

 

Centro de formação

Em finais de Abril corrente, a Uzuri Atelier vai realizar um bootcamp de cartonagem, visando formar pessoas interessadas em matéria de produção de acessórios de moda em cartonagem, que é uma técnica de artesanato.

“Queremos colocar outras mulheres e raparigas no mercado a fazer o mesmo que nós conseguimos realizar. Por essa razão, temos a ideia de criar um centro de formação”, concluiu.