Valor Green

Resíduos plásticos transformados em produtos utilitários femininos
O desenvolvimento de projectos de reciclagem de plástico, em Moçambique, é essencial para garantir o destino adequado de resíduos resultantes da utilização deste material quer individualmente, quer por empresas e instituições.
O plástico, quando mal descartado, geralmente, vai parar nas ruas, rios, sarjetas, aterros sanitários, oceanos, entre outros, e à medida que se decompõe liberta gases de efeito estufa, contribuindo dessa maneira para as mudanças climáticas e o aquecimento do planeta.
Para transformar não somente a maneira como tem sido utilizado o plástico, particularmente o saco de plástico, no País, bem como mudar também a qualidade de vidas das pessoas, a jovem empreendedora moçambicana, Alice Pelembe criou, em 2020, uma Pequena e Média Empresa (PME) denominada Valor Green, com a qual contribui para a conversão deste material em produtos com grande valor acrescentado.
Trata-se de uma PME que se dedica à transformação de resíduos plásticos, particularmente as sacolas de plástico em produtos utilitários femininos, nomeadamente brincos, anéis, bolsas, carteiras, além de bases de mesa de centro, bases de pratos e bandeiras.
Com esta iniciativa, a empreendedora pretende tornar a Valor Green numa referência nacional na área de reciclagem de sacos de plástico em Moçambique, dentro de dois a três anos: “Acredito nisso, porque sou pioneira no trabalho que realizo em Moçambique”, sustentou.
Mitigar efeitos das mudanças climáticas
Tudo começou com a elaboração de um projecto que visava mitigar o impacto do surto da cólera que assolou a província de Cabo Delgado, em 2020. O referido projecto não foi concretizado devido à falta de financiamento.
“Consistia essencialmente em programas de consciencialização da população sobre a necessidade da adopção de hábitos de saúde e higiene pessoal e da comunidade, assim como a distribuição de purificadores de água”, explicou Alice Pelembe, acrescentado que situação similar ocorreu, um ano depois, na província de Nampula.
Foi a partir daí que decidiu direccionar as suas acções para a área de mitigação dos efeitos nefastos das mudanças climáticas: “Em 2021, elaborei o projecto de Criação Artística, com o qual pretendia participar no concurso “Prémio Jovem Criativo”, uma iniciativa governamental que se realiza anualmente, em parceria com o movimento associativo juvenil.
A intenção, segundo referiu a jovem criativa, formanda do curso de Ciências Políticas na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), era reciclar as sacolas de plástico, com a finalidade de produzir diversos artigos úteis.
“Com este projecto de criação artística percebi que havia a necessidade de consciencializar a população sobre os benefícios do sistema de colecta urbana do lixo e ainda da prática da separação do material reciclável e não reciclável, reduzindo, assim, a quantidade de lixo que vai aos aterros sanitários e desta forma preservar o meio ambiente”, lembrou.
Prémio Jovem Criativo
Apesar de não ter sido apurada no concurso, a empreendedora perseverou, dando continuidade ao projecto. Desde modo passou a recolher resíduos sólidos junto dos catadores do lixo e a fazer a separação entre o material reciclável e não reciclável, obtendo a sua principal matéria-prima (sacos de plástico), para transformar e reutilizá-la, conferindo-lhe uma nova estrutura.
Este ano, Alice Pelembe apresentou a Valor Green à Associação dos Estudantes Finalistas Universitários de Moçambique (AEFUM), organização que passou a incubar o projecto, promovendo a sua participação em feiras, entre outras acções.
“Através deste apoio, participei na semana da Europa, realizada na UEM, a 11 de Maio, em Maputo, onde apresentei o meu projecto de criação artística a vários embaixadores presentes no certame. Voltei a concorrer ao Prémio Jovem Criativo e fui apurada, tendo ganho a fase da cidade”, contou.
Para Alice Pelembe, apostar na reciclagem surgiu da vontade de trazer algo novo para a sociedade e de uma visão crítica sobre o mau descarte das sacolas plásticas. “Do ponto de vista utilitário, o plástico não é mau, pois é uma criação do homem que gerou um benefício significativo à sociedade. Mas, infelizmente, a maneira como a indústria e o mercado têm gerido o plástico e a forma como a sociedade o converteu numa conveniência descartável e de uso único, transformou-se num desastre ambiental”, frisou.
Desafios
Um dos principais desafios que a Valor Green enfrenta é o facto de ainda não dispor de infraestruturas próprias para funcionar. “Ainda não consegui ter meu próprio atelier. Um lugar fixo para trabalhar. Às vezes as pessoas ligam, querendo visitar-nos, com o objectivo de beneficiar de uma formação ou apreciar alguns produtos, o que se torna difícil para a Valor Green”.
O processo de reciclagem, segundo enfatizou, “remete-nos sempre à ideia de manuseamento do lixo, o que muitas pessoas desdenham, daí que requer força de vontade. Eu não sinto vergonha de trabalhar com os catadores. Faço-o com toda a vontade e de coração. Reutilizar um produto significa dar uma nova utilidade a um objecto já usado”.
Assistência aos agricultores
A Valor Green prevê implementar, em Maubo, distrito de Boane, na província de Maputo, um sistema de regadio gota-à-gota, com recurso a garrafas plásticas usadas de dois litros.
Muitas associações de agricultores daquela região estão desprovidas de meios para a prática de regadio convencional moderno, situação que afecta negativamente a produtividade das suas culturas.
Com efeito, conforme contou Alice Pelembe, os agricultores têm recorrido ao uso de baldes para regar as suas machambas, havendo situações em que despejam directamente a água ao solo, concorrendo, assim, para o seu desgaste.
Desta feita, a Valor Green pretende assisti-los, na minimização do impacto deste problema, através da reciclagem de garrafas plásticas de dois litros a serem utilizadas na rega gota-à-gota, que tem a vantagem de permitir o uso racional da água.
“Já fizemos os testes para aferir a viabilidade do projecto e os agricultores mostraram-se satisfeitos. Entretanto, a sua implementação ainda não é possível, devido aos custos envolvidos na operação”, concluiu.