BINDZU: Um exemplo de sucesso no agronegócio

1 de abril de 2022

Moçambique possui um elevado potencial agrícola e excelentes condições agro-ecológicas que o tornam apetecível para quem pretende investir no agronegócio, mas este sector ainda é pouco explorado, apesar dos 36 milhões de hectares de terra arável existentes no País. Entre os que ousam apostar nesta actividade, considerada de alto risco, há uma empresa que se destaca: a Bindzu Agrobusiness e Consultoria, que explora uma área de 50 hectares no distrito da Moamba, província de Maputo.

Com 25 trabalhadores efectivos e mais de 30 sazonais, a empresa foi criada em 2010 por três jovens que estavam na iminência de engrossar as fileiras dos desempregados, depois do cancelamento do projecto (de produção de biodiesel) em que estavam a trabalhar, no distrito de Massingir, província de Gaza. A “aflição” por que passaram, diga-se, serviu de estímulo para os recém-formados apostarem na produção agrícola.

“Era o nosso primeiro emprego após a formação. No projecto, tínhamos tido a experiência de produção agrícola, relações com fornecedores e questões administrativas. Somos agrónomos mas fazíamos tudo. Por isso decidimos fazer o mesmo, mas já na nossa empresa”, explica Márcia Maposse, co-fundadora e directora de operações da Bindzu.

O primeiro passo consistiu na elaboração de um plano de negócio para a produção de hortícolas, no distrito da Moamba, que é uma zona com alto potencial agrícola, que já contava com um sistema de irrigação.

Após a constituição da empresa, prossegue, “decidimos investir fundos próprios, numa primeira fase, que era para produzir tomate, cenoura e pimenta. 730 mil meticais era a estimativa. Optámos por começar numa escala mais baixa na expectativa de aumentá-la com os rendimentos provenientes da primeira produção”.

Busca por financiamento

Após o primeiro passo, o mais importante de todos, seguiu-se uma jornada de busca de financiamentos adicionais. Depois de bater várias portas, incluindo a do Ministério da Agricultura, surgiu uma luz. Foram apresentados a um investidor que acabou por se tornar sócio. Na altura, apoiava iniciativas como as da Bindzu.

Entretanto, o investimento feito pelo novo sócio não era suficiente. Tiveram a ideia de submeter uma carta ao Gabinete do Primeiro-Ministro, convidando-o a visitar o empreendimento, e foram bem-sucedidos.

A ida do Primeiro-Ministro à Bindzu abriu mais portas e fez com que a iniciativa ganhasse visibilidade. Como resultado, recebeu financiamento do então Fundo de Desenvolvimento Agrário (FDA) e uma subvenção da Agência Dinamarquesa de Desenvolvimento Internacional (DANIDA).

Introdução de novos serviços

No decurso das suas actividades, os empreendedores enfrentaram dificuldades na aquisição de insumos e preparação de solos. Foi um trampolim para acrescentarem mais serviços à sua carteira de negócios.

Hoje, para além da produção agrícola, a Bindzu presta serviços de consultoria agrícola, venda e montagem de estufas e sistemas de rega, assistência técnica em todo o processo produtivo, estudos de mercado, desenho e implementação de projectos de desenvolvimento comunitário, venda de insumos agrícolas como sementes, fertilizantes e pesticidas, assim como formação e treinamento em agronegócio. Ou seja, estão envolvidos de A a Z na cadeia de valor do agronegócio.

Proximidade com a África do Sul torna actividade agrícola mais arriscada

Apesar do potencial existente no País, a actividade agrícola ainda é considerada de alto risco, principalmente devido à proximidade geográfica com a África do Sul, de onde Moçambique importa maior parte dos produtos, incluindo os frescos.

“Isso não se justifica porque temos condições agro-ecológicas para produzir, mas o custo de produção é extremamente alto. A agricultura, por si só, já é uma actividade de risco e em Moçambique é ainda mais arriscado. As margens de lucro são baixas e não passam dos 10 a 15 por cento”, explica Márcia Maposse.

Mas as “barreiras” não param por aí. Para a co-fundadora e directora executiva da Bindzu, não se justifica que a agricultura pague a mesma taxa de IRPC-Imposto de Rendimento sobre Pessoas Colectivas (32%) que qualquer outra actividade comercial. Para si, um dos incentivos passaria por baixar este imposto.

O desconhecimento dos instrumentos legais, por parte agentes das Alfândegas de Moçambique (e demais entidades), concorre, igualmente, para a retracção do investimento nesta área. “Por exemplo, há muitas isenções que não são do conhecimento ou domínio das alfândegas. Por isso, devia haver mais divulgação”.

Mercado considerado pequeno para insumos

Com vista a aumentar o seu portfólio de negócios, a Bindzu tentou representar algumas marcas de insumos no País, mas estas não foram receptivas, alegadamente porque “o mercado moçambicano é pequeno para tal, sem contar que temos a África do Sul aqui ao lado. Aliás, muitos produtores comerciais que existem cá são sul-africanos e adquirem tudo o que precisam lá, por isso o nosso mercado não é prioritário para as grandes marcas de insumos”, concluiu.