Black Khakhela

12 de abril de 2022

Por ocasião do Mês da Mulher, o Standard Bank traz o retrato de mulheres que venceram o preconceito, ousaram apostar no empreendedorismo e hoje se destacam nas áreas em que actuam. Mais do que celebrar e enaltecer os seus feitos, pretendemos, com esta iniciativa, estimular as demais mulheres a acreditarem mais em si e nas suas ideias, assim como incentivá-las a olhar para os problemas como uma janela de oportunidade que se abre para empreender.

Busca pela cura de uma doença resulta na criação de uma linha de cosméticos naturais 

Chama-se Cármen Miral, nascida no distrito de Nacala-Porto, província de Nampula, no Norte do País, e formada em Sociologia. Pode ser descrita como uma mulher vencedora, que, a partir de uma doença, idealizou um negócio que a tornou uma referência incontornável no que diz respeito aos produtos para cabelo e pele.

Tudo começou em 2012, quando lhe foi diagnosticada uma enfermidade que afectava a sua imunidade, o que levou à debilitação do seu cabelo. Na busca por uma solução, decidiu criar os seus suplementos e produtos para pele e cabelo. E foi bem-sucedida!

“O meu cabelo começou a cair e eu queria voltar a viver. Fui pesquisando e percebi que era possível, através dos suplementos alimentares, voltar a ter o meu cabelo. Comecei a criar linhas de produtos. O óleo de mafurra, que era usado somente para a alimentação, foi o primeiro”, revela.

Com a saúde já restaurada e a experiência adquirida, Cármen Miral viu uma oportunidade de desenvolver um negócio de tratamento de todo tipo de cabelo crespo (carapinha), com base nos frutos e óleos localmente produzidos. O resultado disso foi o lançamento oficial da marca com certificação internacional, no mercado moçambicano, em 2020.

Linha de produtos

Cármen Miral usou as fórmulas que a ajudaram a livrar-se, literalmente, da enfermidade para produzir, na sua cozinha, produtos cosméticos, que passou a vender de porta em porta, em 2016. “Foi um sucesso porque, na verdade, o mercado já estava a precisar de produtos desta natureza, e com padrões internacionais. Não possuem sulfatos, minerais, perfumes, muito menos parabenos (conservantes)”.

Presentemente, a linha de cosméticos desenvolvida por Cármen Miral possui 11 produtos certificados para lavagem e tratamento de cabelo, para pele, assim como desodorizantes naturais e repelentes, todos da marca Black Khakhela.

“Em Moçambique há indústrias, mas não de cosméticos, principalmente os naturais. Foi daí que percebi que eu podia ser a pessoa que daria o primeiro passo nesse sentido como forma de impulsionar o surgimento e desenvolvimento desta área”, conta Cármen, para quem as mulheres não devem abrir mão de um sonho por falta de condições.

“É possível, mesmo sem muitos recursos, empreender. Muitos empreendedores não tinham recursos quando começaram a sua jornada. Avançaram com o pouco que tinham, e foram reunindo as condições enquanto caminhavam.  Eu sou disso exemplo”, enfatiza.

 

Salão dinamiza venda de cosméticos

A linha de produtos cosméticos surgiu, também, como resposta aos pedidos dos clientes do salão de cabeleireiro, designado Black Khakhela Spot, que Cármen Miral fundou, em 2018, com o objectivo de influenciar a mudança da opinião sobre o cabelo crespo, assim como contribuir para a exaltação do cabelo natural das mulheres e dos homens.

Para além do tratamento de cabelo com produtos naturais, o espaço, que conta, actualmente, com 10 colaboradores, presta, igualmente, serviços de consultoria capilar.

Entretanto, o início desta jornada não foi fácil pois enfrentou diversas dificuldades, umas de ordem financeira e outras associadas à falta de oportunidades e de conhecimento sobre o negócio no qual estava a apostar, assim como à literacia.

“Por exemplo, no passado, nunca se tinha ouvido falar da discriminação baseada no tipo ou na cor do cabelo. Vi-me, então, na necessidade de apostar na educação e consultoria capilar. O salão Black Khakhela Spot é, acima de tudo, um local de exaltação da cultura”, explica Cármen Miral.

Origem do termo Black Khakhela

O termo Khakhela, na língua emakhuwa, predominante no Norte de Moçambique, significa pente de garfo, que, tradicionalmente, era feito de pau-preto pelos artesãos e usado para pentear o cabelo crespo e/ou enfeitar as casas.

A escolha do nome Khakhela para designar a marca deveu-se, essencialmente, ao facto de a khakhela ser um símbolo de identidade e orgulho nacional.

Assim, Black Khakhela quer dizer, literalmente, pente de garfo preto.

Perfil

Tenho 35 anos de idade e sou a mais velha de seis irmãos. A minha maior influência foi o meu pai, militar, que me criou com muita disciplina, e a minha avó materna, professora, com mais de 40 anos de carreira. Nasci numa sociedade muito humilde e cheia de valores culturais.

Além de empreendedora, sou mãe de dois filhos. Sou uma agente de mudança, apaixonada pelo activismo e pela cultura.