Conheça a AMOR

20 de junho de 2022

ENTRE CATADORES DO LIXO E INDÚSTRIAS

Lixo pode gerar cadeias de valor sustentáveis

Catar lixo em Moçambique, para além de contribuir para a preservação do meio ambiente e da saúde pública, transforma resíduos sólidos, tidos como inúteis e prontos para serem descartados, em mercadoria com valor utilitário. No País, a economia circular, resultante do processo de reciclagem, tem o potencial para gerar um impacto social sobre cerca de um por cento da população. É uma área que poderia representar mais de 300 mil empregos dignos e sustentáveis.

A Associação Moçambicana de Reciclagem (AMOR) é uma das instituições de referência nesta área, em Moçambique. Desde o início das suas actividades, há, sensivelmente, dez anos, reciclou cerca de 2.500 toneladas de resíduos criando rendimento para quase 5000 catadores em Maputo e Sofala.

Esta organização, que visa a promoção da inclusão social, através da criação de emprego, tem incidido a sua actuação sobre os resíduos por criarem cadeias de valor entre os catadores de resíduos e as indústrias que os reutilizam.

As operações deste projecto tiveram início, em 2009, na província de Maputo, cobrindo, até, um total de 15 municípios do País. Possui representações em Maputo e Sofala, estando, para breve, a implantação de outras representações nas províncias de Cabo Delgado, Zambézia, Nampula e Inhambane.

Trata-se de uma associação que faz, essencialmente, a ligação entre as indústrias e os catadores cuja função reside na colecta selectiva, triagem, classificação, processamento e comercialização dos resíduos, para a sua reutilização ou reciclagem, contribuindo significativamente para a cadeia produtiva, além de aumentar a vida útil dos aterros sanitários.

Reciclar 1000 toneladas de lixo por ano

“Estamos, mensalmente, envolvidos no processo de reciclagem de cerca de 100 toneladas de resíduos por mês, abarcando entre mil e cinco mil catadores de lixo no país”, referiu Stephane Temperman, presidente da AMOR.  

Inicialmente, a AMOR contava com um pequeno grupo de voluntários, apoiado por algumas empresas privadas. Gradualmente, foi evoluindo, atraindo, deste modo, à atenção de doadores, bancos e embaixadas, o que possibilitou a implementação de vários projectos, visando satisfazer as necessidades da economia circular.

Com isto, a associação cresceu consideravelmente, o que permitiu aceder aos fundos destinados a projectos climáticos: “Arrancamos com apenas dois funcionários e hoje oscilamos entre 20 e 50 em todo o país, dependendo da evolução das oportunidades geradas pelos projectos”, frisou.

Nos últimos três anos, avançou o presidente, “tem-se registado um crescimento de contribuições de doadores para a economia circular, por isso estamos a crescer continuamente na perspectiva de cobrir todo o território nacional. Todos os resíduos são recicláveis, mas nem todos têm sustentabilidade financeira”.

Por este motivo, segundo Stephane Temperman, a associação tem focalizado as suas actividades nos produtos com potencial para criar cadeias de valor entre os catadores e as indústrias, nomeadamente as latas de alumínio e objectos de plástico, como Polietileno de alta densidade (HDPE), bacias, baldes, contentores, mobílias, entre outros.

Digitalização do negócio

“A reciclagem da garrafa de plástico, por exemplo, é subsidiada. Ela não consegue, por si só, criar uma cadeia de valor sustentável. Antes havia produtos que eram facilmente recicláveis, mas agora já não criam cadeia de valor sustentável, tais como o papelão, o papel, a lata de ferro, entre outros”, destacou.

Hoje em dia, existem algumas empresas em Maputo que reciclam os seus resíduos por vontade própria. Para melhor viabilizar o seu negócio aproximaram-se à AMOR, solicitando a realização deste serviço. Entretanto, por se tratar de uma organização de carácter social, a AMOR criou, paulatinamente, capacidades para que as micro, pequenas e médias empresas pudessem substituir a organização, na realização desta tarefa.

Como resultado desta empreitada, Maputo conta agora com uma dúzia de empresas prestadoras de serviços de reciclagem de resíduos.

Esta situação se deve ao facto de a AMOR ter como vocação fazer a interligação entre as indústrias e os catadores: “As indústrias precisam de ter contas fiscais formalizadas e os catadores não têm como emitir facturas. Daí que a AMOR criou ecopontos, onde os catadores vendem os resíduos e as indústrias compram”, explicou Stephane Temperman.

Considerando que o processo de implantação de ecopontos em vários locais do país requer investimentos avultados em infraestruturas, a organização projecta, para breve, a digitalização da economia circular, no País, através do uso de aplicativos.

“Com esta ferramenta digital, as indústrias e os catadores poderão realizar negócios mesmo sem a presença física da AMOR”, concluiu o presidente da associação.

 

Resíduos de papelão transformados em carvão

A Associação Moçambicana de Reciclagem tem estado a transformar 10 metros cúbicos de resíduos orgânicos (biomassa, papel e papelão) em carvão, recorrendo, para isso, a um procedimento técnico de baixo custo.

Os pedaços de carvão, resultantes desta transformação, são utilizados para a confecção de fertilizantes, sendo que o pó é aplicado, posteriormente, nas machambas, para além da possibilidade de ser transformado em combustível em briquetes.