A crescente consciencialização sobre a necessidade de se investir cada vez mais na igualdade e equidade de género tem impulsionado o surgimento, no País, de organizações ligadas ao empoderamento da mulher no seio da família, comunidade e sociedade, onde o seu papel, apesar de ser preponderante, ainda não é devidamente valorizado.

Uma dessas organizações comprometidas com esta causa é a ICEF Microcrédito, que concede crédito para negócio e ao consumo a mulheres empreendedoras (principiantes ou estabelecidas), comerciantes e trabalhadoras. Possui, igualmente, uma plataforma, criada após a eclosão da Covid-19, através da qual atribui um adiantamento de 30% do rendimento mensal a funcionárias de empresas que tenham assinado um acordo para o efeito.

A ICEF Microcrédito faz parte de uma associação (ICEF – Ideias e Conteúdos de Empreendedorismo Feminino) fundada por Mody Maleiane, que visa unir e agregar valor às iniciativas das mulheres que apostam no desenvolvimento de ideias empreendedoras, tornando-as efectivas, sustentáveis e visíveis no mercado, através do apoio na consolidação e orientação em relação às melhores soluções de financiamento.

Actualmente, a microcrédito tem uma carteira de 250 beneficiárias, com destaque para trabalhadoras, comerciantes, mukheristas (importadoras informais de mercadorias), fornecedoras de refeições (catering), organizadoras de eventos, entre outras, que exercem actividades de geração de renda.

No mercado, a ICEF Microcrédito distingue-se das demais por incluir, no seu “pacote”, a capacitação em literacia financeira. “As beneficiárias destacam este aspecto, pois aprenderam a fazer gestão e poupança dos seus rendimentos. Algumas nunca tinham tido uma conta bancária, e, através da ICEF Microcrédito, passaram a ter acesso a produtos e serviços bancários”.

Criação da ICEF

Conforme explica Mody Maleiane, a ideia de criar a ICEF – Ideias e Conteúdos de Empreendedorismo Feminino surgiu em 2017, “depois de sentir esta necessidade de fazer algo para ajudar a mulher a posicionar-se na área do empreendedorismo. Toda mulher tem alguma habilidade e ideia de algo que gostaria de fazer, mas, por vezes, não sabe como ou por onde começar, e é aí que a ICEF aparece para apoiar”.

Para o alcance dos seus objectivos, que se resumem na busca de soluções para o empoderamento social e económico da mulher, a ICEF actua em diversas áreas, tais como associativismo, meio ambiente, turismo, desporto, arte, moda, energia, indústria transformadora, agro-pecuária, marketing digital, restauração, responsabilidade social, inclusão da mulher e rapariga, saúde e bem-estar, inclusão financeira, entre outras.

As iniciativas promovidas em cada uma das áreas consistem, essencialmente, na formação/capacitação (literacia financeira, contabilidade e gestão organizacional), treinamento, desenvolvimento de habilidades, mobilização de recursos, entre outras acções, pois “acreditamos que todo o conhecimento pode transformar-se numa acção”.

Para a efectivação de parte das suas iniciativas, para além da ICEF Microcrédito, a associação possui uma publicação (Jornal Feminino), através do qual dá oportunidade às mulheres para falarem do seu percurso, negócios, produtos e serviços.

Resultados encorajadores

Mody Maleiane orgulha-se do facto de as iniciativas promovidas pela ICEF terem beneficiado, desde a sua criação, mais de 600 mulheres, o que a encoraja a alargar o seu raio de acção, tendo como meta alcançar, ainda este ano, mais de 1000 mulheres, em diferentes províncias do País.

“Somos, hoje, uma marca reconhecida pelo impacto das nossas acções. Sempre procuramos abranger mulheres de todas as zonas (urbanas e rurais), sem distinção de raça, idade ou classe social, porque, para nós, todas elas precisam de algum apoio, independentemente das circunstâncias”, frisa.

Barreiras impedem o desenvolvimento da mulher

A fundadora e presidente da ICEF considera que as mulheres enfrentam muitas dificuldades e barreiras para se imporem na sociedade, em particular nos negócios, sendo uma delas a dificuldade de aceder ao financiamento para iniciar ou impulsionar os seus projectos. Esta (barreira) não é a única, mas é a que mais se destaca entre as demais.

Referindo-se especificamente ao sector produtivo, Mody Maleiane afirma que as mulheres não se sentem estimuladas a maximizar a produção e, por via disso, a competir no mercado nacional, regional e internacional.

“Isso se deve, em parte, à inexistência ou à deficiente comunicação sobre normas e políticas de produtos Made in Mozambique, dificuldades no acesso ao código de barras para os seus produtos, altos custos de importação, entre outros obstáculos. Ou seja, há muitas barreiras na nossa sociedade”, conclui.