Inhambane produz fertilizante orgânico amigo do ambiente
A busca por maior produtividade na agricultura sempre esteve no topo das prioridades das organizações e nações, que, entre outras medidas, têm investido cada vez mais em tecnologia, sementes melhoradas e fertilizantes menos nocivos ao ambiente. Em Moçambique, onde a aposta na produção está na ordem do dia, emerge uma empresa que se propõe a contribuir neste sector através de um fertilizante natural e altamente eficiente.
Trata-se da Guano Fertilizantes Moçambique (GuanoMoz), que processa e embala o guano, um fertilizante orgânico com propriedades únicas, obtido das fezes de morcegos acumuladas em grutas.
A ideia de apostar neste produto surgiu de uma conversa familiar, durante a qual o fundador da empresa, ficou a saber que, nos anos 1960, Moçambique já produzia e exportava para os países vizinhos o guano, que, já na altura, tinha muito potencial comercial e de desenvolvimento da agricultura ecológica.
“O guano já era produzido há décadas, antes dos fertilizantes químicos, e era chamado ouro negro, mas deixou de ser um produto muito procurado. Entretanto, a sua procura tem aumentado nos últimos tempos, principalmente por causa da preocupação com os produtos orgânicos e naturais, pois os químicos acabam, de certa forma, por danificar os solos”, explica Domingos Mutombene, representante da GuanoMoz.
E não é por acaso. O guano contém macro e micro nutrientes importantes para o crescimento das plantas, para além de matéria orgânica e uma flora microbiana (microrganismos) muito rica que contribui para o aumento da fertilidade da terra.
“O guano é um excelente enriquecedor, condicionador e rectificador de solos. Plantas que têm o guano como fertilizante crescem mais saudáveis e resilientes, com folhas e caules maiores, produzindo mais flores e frutos com melhor sabor. Para além disso, sendo 100% natural, não contamina os solos ou os consumidores finais com químicos”, sublinha Domingos Mutombene, referindo-se às vantagens do uso do fertilizante.
Inserção no mercado
Actualmente, a GuanoMoz tem tido encomendas esporádicas de empresas ligadas à produção de produtos orgânicos, como é o caso do açúcar, que requisitam, de cada vez, entre 10 e 30 toneladas.
Para além da aquisição directa junto à GuanoMoz, o fertilizante está, também, disponível nas principais redes de fornecedores de insumos agrícolas no País, em sacos de 2 e 10 quilogramas.
“O nosso guano é comercializado somente em Moçambique pois ainda não conseguimos garantir a quantidade e os requisitos necessários para a sua exportação. O objectivo, entretanto, é, dentro dos próximos 12 meses, exportar para os mercados regionais, como África do Sul, sendo o principal mercado, e a Europa”, avança.
Locais de ocorrência
Registos apontam para a existência, há mais de 20 anos, de reservas de guano com milhares de toneladas no País, mas, neste momento, a GuanoMoz extrai o produto no distrito de Inhassoro, em Inhambane, estando em processo de expansão para Cheringoma, em Sofala. “Há outras regiões onde abunda o guano e que ainda não descobrimos”.
Apesar de ser usado na agricultura, a extracção deste fertilizante (nas grutas) é considerada uma actividade mineira, mas para vendê-lo é necessário ter uma licença agrícola, emitida pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADER).
Para a obtenção da licença, a GuanoMoz teve de efectuar testes/ensaios com inúmeras culturas em diversas regiões do País, o que permitiu a certificação do seu produto.
Envolvimento da comunidade
A extracção do guano é feita pela população, que é paga para o efeito. No total são 15 camponeses, número que varia de acordo com o volume das encomendas. Eles usam a licença da empresa, que pretende, no futuro, contribuir para o licenciamento das comunidades.
“Pretendemos comprar o guano das comunidades. Ou seja, transformá-las em fornecedoras do produto. Uma coisa interessante é que nós aprendemos a extrair o guano com a comunidade, que tem uma experiência de décadas. Nem sequer sabíamos que a extracção não deve ser feita de dia, mas sim de noite quando os morcegos não estão lá (nas grutas). Elas é que nos ensinaram”, frisa.
Um estímulo do Governo
Dadas as vantagens do uso deste fertilizante na agricultura, Domingos Mutombene revela que a GuanoMoz teve, recentemente, a confirmação de financiamento do projecto Sustenta, implementado pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADER), através do Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável (FNDS).
“Recebemos este financiamento no âmbito do projecto de biodiversidade, uma vez que a iniciativa prevê a contratação, nas zonas rurais, de mais de 100 trabalhadores com baixa literacia”, afirma.
Exemplo de Madagáscar
Domingos Mutombene considera que o uso de fertilizantes ainda é incipiente no País, e, quando são usados, muitas vezes os produtores não dominam a sua aplicação e acabam por danificar não só o solo, mas também a fauna.
Já em Madagáscar, o uso do guano atingiu níveis impressionantes. “É um País que conseguiu criar uma indústria com base no guano e revolucionou completamente a agricultura, principalmente a orgânica e natural. Por isso, muitas empresas internacionais produzem cacau e café naturais em Madagáscar porque a matéria-prima (o guano) está lá”.