MOPA

8 de setembro de 2022

Sustentado pela tecnologia USSD, um projecto pioneiro no mundo está a revolucionar o processo de gestão de resíduos sólidos e saneamento do meio ambiente, nas cidades da Beira e Nampula, nas províncias de Sofala e Nampula, respectivamente.

A plataforma tecnológica denominada MOPA foi criada e concebida pela UX, uma Pequena e Média Empresa (PME) moçambicana, focada no desenvolvimento de soluções online que desempenham um papel transformador para empresas, instituições e para a sociedade, num investimento de 66 mil dólares norte-americanos.

A iniciativa tem por objectivo melhorar consideravelmente o processo de gestão de resíduos sólidos, através da implementação de tecnologia moderna, que permite a canalização de informações em tempo real, gerando uma capacidade de resposta aos problemas identificados de forma eficaz e célere, incluído a possibilidade de responsabilização dos intervenientes no processo.

Com recurso a um simples telemóvel, os munícipes das cidades beneficiárias do projecto têm a possibilidade de reportar às edilidades todos os problemas relacionados com o tratamento do lixo e saneamento da cidade. Por sua vez, permite aos municípios comunicar aos colectores sobre a ocorrência de irregularidades em tempo real.

 

Casos reportados

No que se refere à gestão do lixo, a plataforma permite que sejam reportados problemas relativos a contentores cheios, entulhos nas ruas, ramos de árvores no chão, contentores a arder, lixo fora dos contentores, tchovas que não fizeram a colecta do lixo, amontoados de lixo e a existência de lixo nas valas de drenagem.

Já na vertente do saneamento da cidade, os munícipes podem comunicar situações como a existência de águas sujas (negras), caixas sem tampas, desabamentos de edifícios, sarjetas entupidas, fossas cheias, ligações de esgotos nas valas, entre outros aspectos.

O director geral da UX, Éder Paulo, explicou que a MOPA foi criada e implementada em 2016, no município de Maputo, onde funcionou até 2018, por razões contratuais. Durante a sua execução, na cidade de Maputo, o projecto foi financeiramente sustentado pelo Banco Mundial: “O município de Maputo celebrou com a UX um contrato de prestação de serviço, durante três anos, após os quais o projecto foi interrompido”, frisou.

Desde então, esta plataforma tecnológica expandiu-se geograficamente para as cidades da Beira e Nampula, em 2022.

“Neste dois pontos do País, a plataforma está a ser efectivamente utilizada. É um projecto que integra a componente social, mas precisa de uma visão estratégica”, disse Éder Paulo, acrescentando que tal como em Maputo, Beira e Nampula, o processo da sua implementação foi semelhante, pois necessitou do suporte de uma entidade parceira no processo de concepção.

Com efeito, nas cidades da Beira e Nampula, o projecto conta com o apoio da cooperação belga para o desenvolvimento e da agência italiana de cooperação para o desenvolvimento. Esta assistência visa sustentar a criação e implementação do projecto, no início, ficando, posteriormente, a sua continuidade a cargo do próprio município: “Este é o nosso grande desafio”, enfatizou.

 

Projecto inovador e único

Para o nosso interlocutor, trata-se de uma plataforma inovadora e única no mundo. Quando uma pessoa identifica um problema relacionado com o lixo ou saneamento do meio pode comunicar ao município através de um simples telemóvel, bastando para isso discar *311#.

“A informação é, em tempo real, encaminhada ao Conselho Municipal, que, por sua vez, reporta aos provedores do serviço para resolver a situação. Logo após a resolução do problema, a pessoa que o reportou recebe, no seu telemóvel, a indicação de que a situação já foi resolvida”, indicou, ajuntando tratar-se de um processo simples, rápido e eficiente.

Na sua opinião, é importante perceber o valor do projecto na óptica do município, para a resolução dos problemas. Até aqui, com a implementação da MOPA foi possível apurar que o lixo fora do contentor tem sido um indicador transversal com um peso significativo. O mais importante, avançou, é que para além desta informação genérica, o projecto serve para qualquer pessoa visualizar e perceber o que está a acontecer em todas as fases desde que o problema é identificado até ser resolvido, de forma transparente, pois a informação está disponível no website www.mopa.co.mz. Por detrás disto, a plataforma fornece muito mais informação que pode contribuir para outro tipo de tomada de decisões.

“Nós acreditamos que, com toda a informação que pode ser captada, através do projecto, há um potencial muito grande que deveria também acontecer na solução de vários problemas numa perspectiva macro. Criamos uma plataforma, que na visão dos próprios municípios e na perspectiva da gestão, pode contribuir para solucionar, não somente, os problemas do dia-a-dia, mas também suportar decisões, por exemplo de investimento, de forma sustentada”, acrescentou.

 

Desafios da expansão

No processo da sua implementação e expansão, a plataforma tem-se deparado com desafios na sua integração e assimilação, que por vezes não são imediatos, devido à fraca percepção da comunidade sobre o potencial que a inovação tem: “Existem ainda muitas pessoas que não sabem que podem desempenhar um papel activo no seio da sociedade. Esse é o maior desafio uma vez que o processo, em si, é tão simples e fácil”.

Outro nó de estrangulamento apontado por Éder Paulo tem a ver com a componente da comunicação. Tem sido fácil fazer chegar a informação aos municípios, através da MOPA. Entretanto, ela acaba por não fluir facilmente em algumas redes de telefonia móvel.

A plataforma MOPA poderá no futuro ajudar na resolução de outros problemas para além do lixo e saneamento. Para qualquer problema como por exemplo um poste de electricidade danificado esta tecnologia poderá funcionar como elo de ligação entre os munícipes e o município.

Um caso de estudo da UNESCO

De acordo com o director geral da UX, a plataforma foi validada internacionalmente. Constituiu um caso de estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), no âmbito do programa de alfabetização digital tendo constado de uma lista restrita da organização, após ter sido seleccionada, num universo de 60 países que concorreram.

A MOPA foi o primeiro exemplo de uma plataforma de cidade inteligente (smart city) que implementou a tecnologia USSD (*311#) e o SMS como processo inclusivo de população de baixa renda, com acesso a telefones móveis mais básicos, como forma de reporte de problemas de lixo nos seus bairros.