Projecto DOCAMPO AQUAPONICS

25 de março de 2022

A Praia do Tofo, no distrito de Jangamo, província de Inhambane, iniciou, recentemente, a produção de vegetais frescos, nomeadamente espinafre, alface, pepino, cebolinha, tomate, entre outros, com recurso à aquaponia, sistema de cultivo que combina a aquacultura (criação de peixes) e a hidroponia, cultivo de plantas, com as raízes submersas na água.

Trata-se de dois sistemas fisicamente separados e interligados por um sistema de bombagem que leva a água com fezes de peixe para o sistema de cultivo, que por sua vez devolve a água limpa pelas plantas, ao tanque com os peixes.

O projecto piloto, implementado pela Docampo Organic Aquaponics, poderá dar origem a um outro projecto de grande dimensão, na cidade de Inhambane, avaliado em cerca de dois milhões de dólares norte-americanos, prevendo-se que transforme a vida de muitas famílias desfavorecidas, nesta urbe.

O empreendimento, a ser erguido numa área de 22 hectares, será constituído por 10 estufas, com cerca de 400 metros quadrados, e terá uma capacidade de produção de 90 toneladas de vegetais cada, por ano.

Esta iniciativa de caris socioeconómica preconiza um modelo de negócio que contempla a participação sem custos de mulheres em situação de vulnerabilidade, para que possam gerar renda, para as suas famílias.

Grande investimento

Segundo explicou Ana Vaz, co-fundadora da Docampo Organic Aquaponics, este tipo de projecto exige um avultado investimento. Mas, o seu elevado potencial de rentabilidade permite uma rápida recuperação dos recursos investidos.

“Estamos entusiasmados com este projecto, sobretudo pelo seu carácter social, pois vai-nos ajudar a crescer, em conjunto, com as comunidades”, disse.

Deste modo, o projecto prevê aplicar os lucros resultantes da execução do empreendimento na compra de equipamentos a serem disponibilizados, gratuitamente, às mulheres vulneráveis.

“Além dos equipamentos, elas vão beneficiar de insumos, know-how, entre outros aspectos, para que possam produzir, de acordo com o plano de negócio do projecto, que, posteriormente, fará a recolha da produção para vendê-la de forma centralizada”, sustentou, ajuntando que a receita será partilhada proporcionalmente entre o projecto e as mulheres.

Para o efeito, as mulheres envolvidas no projecto deverão constituir uma empresa ou uma entidade legal, passando, assim, a serem contribuintes do sector formal da economia.

O escopo do projecto de aquaponia compreende três momentos, nomeadamente, o piloto já em funcionamento (fase – 1), a implementação da fase - 2, que envolve um investimento de dois milhões de dólares, na cidade de Inhambane, e a realização da fase - 3, que contempla um investimento adicional de dez milhões de dólares.

Ciclo de produção

Acontece que, durante o processo de mobilização do investimento para a execução da primeira fase, os mentores da iniciativa se aperceberam da premente necessidade de se realizar um projecto piloto, que serviria de protótipo: “Grande parte dos potenciais investidores abordados, neste contexto, queriam ver o projecto no terreno, sendo que não havia nada de concreto, para mostrar. Foi por esta razão que decidimos arrancar com a execução do projecto piloto, em Tofo”, referiu José Botelho, co-fundador do projecto.

Posto isto, em Fevereiro de 2021 iniciou, em Tofo, a construção da estufa do projecto piloto, que ocupa uma área de 120 metros quadrados, destinada à aquaponia, e outra com cerca de 50 metros quadrados, para a sementeira.  

A estufa tem capacidade para produzir cerca de 400 quilos de peixe, por ano, e igual quantidade de vegetais, em igual período.

Este ano, o projecto piloto entrou no ciclo de produção de vegetais para a venda, esperando-se que a respectiva facturação agilize o processo de angariação do investimento necessário para a implementação do projecto principal.

De momento, a cultura incide sobre a folha da mostarda e a acelga (kale), estando em curso diversos testes, visando o cultivo de vegetais de fruto, como pepino, pimento, tomate, etc.

“Um dos objectivos principais da iniciativa é contribuir no combate à má nutrição, através da integração de mulheres vulneráveis no projecto, para lhes proporcionar uma melhoria da qualidade de vida”, frisou José Botelho.

 

Melhor negócio verde do país e da região

O projecto de aquaponia da Docampo Organic Aguaponics foi uma das iniciativas empreendedoras seleccionadas para representar Moçambique na fase regional do maior concurso global de ideias de negócios verdes, ClimateLaunchpad, em 2020, tendo ganho a Final Africana na categoria de alimentação.

Ainda no âmbito da mesma iniciativa, a Docampo Organic Aquaponics situou-se entre os primeiros 32 projectos na Final Mundial da competição, de um universo de 3.500 concorrentes do mundo.

Ana Vaz destacou a importância da participação neste evento: “no concurso aprendi que é possível trocar impressões sobre vários aspectos de iniciativas de projectos e estabelecer parcerias, bem como a transformação de ideias projectos palpáveis e entrar no business book”, afirmou.

O subsídio, arrecadado no âmbito da participação no concurso, serviu para custear parte das obras de construção da estufa do projecto piloto, em Tofo.