Mozambique Honey Company

27 de julho de 2022

Dividendos do mel utilizados na construção de infraestruturas sociais

Em Sussundenga, um distrito considerado celeiro da província de Manica, uma Pequena e Média Empresa (PME) moçambicana está a contribuir para a melhoria das condições de vida de aproximadamente mil apicultores.

Trata-se da Mozambique Honey Company (MHC), uma empresa que no período de pico da Covid-19, em 2020, registou o mais elevado volume de vendas: “Dada a maior procura nessa altura, as vendas atingiram cerca de 26 toneladas de mel. Pensamos que o facto ficou a dever-se à pandemia, uma vez que as pessoas usavam o mel como um dos principais elementos do cocktail geralmente utilizado para atenuar os sintomas desta doença”, referiu Anifa Osman, gestora da MHC.

Refira-se que o mel natural é rico em sais minerais e possui, entre outras, propriedades  antissépticas, antioxidantes, antibacterianas e anti-inflamatórias.

Negócio justo e inclusivo

Antes da criação da MHC, a produção do mel já era uma prática tradicional das comunidades do distrito de Sussundenga. “Nessa altura, o processo de comercialização era meramente informal. Foi a Eco-Micaia, como sócia na MHC, que se responsabilizou pela introdução, naquela região, de uma produção orientada para o desenvolvimento de um negócio justo e inclusivo, por via da constituição de uma sociedade com os apicultores locais”, lembrou Anifa Osman.

Para viabilizar o funcionamento da sociedade, a MHC recomendou a criação de uma associação de apicultores de Sussundenga, através da qual os produtores se poderiam fazer representar na MHC, que está a estudar formas de facilitar a capacitação desta associação para permitir a transferência para ela de uma percentagem das suas acções.

“Com base no contrato que a MHC tem com a Fundação Micaia, os apicultores têm beneficiado de formação, materiais e equipamentos e até de infraestruturas ligadas ao fortalecimento da cadeia apícola para facilitar a profissionalização das suas actividades. Em contrapartida, vendem o mel exclusivamente à Mozambique Honey Company”, contou Anifa Osman.

Certificação orgânica

A MHC emprega oito trabalhadores em regime normal. Porém, em momentos de maior demanda, a empresa é levada a fazer novas contratações da força de trabalho em regime eventual. Mantém ainda um vínculo contratual com cerca de mil apicultores em Sussundenga.

Um dos principais desafios que a MHC enfrenta para conseguir a certificação orgânica, conforme enfatizou a gestora, diz respeito ao difícil e oneroso processo que deve ser seguido para a sua obtenção: “Sabemos que o nosso mel é, na prática, orgânico, mas queremos ter a respectiva certificação, o que não é nada barato”, disse.

Estes custos teriam que ser assumidos pelo mercado, encarecendo o produto, algo que a empresa pretende a todo o custo evitar. Outro constrangimento centra-se na dificuldade de acesso a insumos básicos. Por exemplo, para obter embalagens de qualidade é necessário importar, com todos os custos alfandegários que a operação implica.

No que tange à qualidade do mel de Sussundenga, Anifa Osman explicou que, inicialmente, a MHC comprava mel processado na comunidade. Para garantir melhor controlo de qualidade, passou a adquirir o produto em favos, processando-o, desta forma em condições em que todos os aspectos de higiene e qualidade estão sob controlo da empresa.

Após a aquisição, o mel é transportado para o centro de processamento. Na unidade fabril, é filtrado, durante uma semana, com recurso a redes específicas para o efeito e depositado em pipas de 80 litros. Devido à sua densidade é, posteriormente derretido naturalmente com recurso à energia solar, para facilitar a sua embalagem em frascos diferentes de acordo com o tipo de produto.

A MHC comercializa o seu mel em todas as províncias, com a excepção de Cabo Delgado, através de uma rede de distribuidores.

Combate às queimadas

Num outro desenvolvimento, Anifa Osman explicou que em vários pontos da província tem sido comum as populações recorrerem às queimadas para proceder à caça e consequentemente, acabam provocando queimadas descontroladas. Neste contexto, a apicultura contribui para a redução de queimadas porque o apicultor já tem noção de que as queimadas descontroladas afectam o seu negócio, pois, o fogo pode atingir as suas colmeias e fazer com que eles percam uma boa fonte de rendimento.

Em Sussundenga, como em outras partes do país, era igualmente frequente os apicultores usarem cascas de árvores para construir colmeias, contribuindo, deste modo, para a degradação florestal e perda da diversidade biológica que tanto contribui para o bem-estar das comunidades.

Para reverter esta prática, a MHC tem trabalhado em estreita ligação com a sua parceira, a Fundação Micaia, que tem conseguido financiamentos de doadores nacionais (incluindo o Governo) e internacionais, para fornecer colmeias convencionais e modernas aos apicultores que são fixadas numa base com um metro de altura: “Assim, já não podem fazer queimadas sob o risco de destruir as colmeias que são uma importante fonte de renda”.

Penetração no mercado sul-africano

Para o presente ano (2022), esta PME perspectiva comercializar aproximadamente 40 toneladas de mel. O alcance deste objectivo, segundo Anifa Osman, depende das condições climatéricas. Por exemplo, o ciclone Idai, em 2019, derrubou muitas árvores e destruiu muitos apiários. Como resultado, a produção nas campanhas subsequentes foi afectada. Embora o Governo e parceiros tenham investido num processo de reposição das colmeias, em 2021, tivemos chuvas e ventos fortes na altura da floração das principais plantas melíferas. Isso também afectou a produção. “Este ano, caso haja um considerável excedente de produção do mel, vamos exportá-lo para o mercado sul-africano, onde já identificamos clientes interessados”, frisou.  

Para o efeito, a empresa, através da Fundação Micaia, está a fornecer o material necessário, bem como a capacitar os apicultores por forma a dotá-los de técnicas e condições indispensáveis que permitam o incremento da produção e, consequentemente, a obtenção de excedente, para a exportação.

Criada em 2011, pelo holandês Andre Vonk, a MHC foi reestruturada, dois anos depois, passando a ser gerida pela Eco-Micaia, uma empresa de carácter social que se dedica ao estabelecimento de empresas inclusivas e à geração de oportunidades de mercado para  os produtores nelas envolvidos. Actualmente, esta empresa gere a cadeia de valor do mel (MHC) e do malambe (Baobab Products Mozambique), além de um centro turístico em Dombe, Ndzou Camp, na província de Manica.