OLOGA

21 de junho de 2022

Colocar a tecnologia ao serviço do desenvolvimento

As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) têm estado cada vez mais presentes nas nossas vidas, e a realidade tem mostrado que, quando bem usadas, podem aproximar as instituições dos cidadãos, remover as barreiras que ainda persistem no acesso aos serviços públicos, e não só. Em Moçambique, apesar da fraca massificação do seu uso, há empresas que olham para as TIC como um indutor do desenvolvimento, transformando-as num instrumento imprescindível na melhoria das condições de vida das comunidades, independentemente da área em que forem aplicadas.

Exemplo disso é a Ologa Sistemas Informáticos, sedeada na capital do país (Maputo) e com delegações nas cidades de Tete e Nampula. A firma foi fundada em 2010 por jovens que, em parceria com uma instituição de desenvolvimento, a GAPI-Sociedade de Investimentos, decidiram usar a tecnologia para o desenvolvimento de soluções para projectos de carácter social e económico.

Conforme explica o seu director-geral, Mulweli Rebelo, a empresa tem um fim lucrativo, mas sempre associado à vertente social, razão pela qual desenvolve, também, soluções para projectos que trabalham com crianças órfãs e vulneráveis, agricultura, mulheres, raparigas e literacia digital.

Impacto nas zonas rurais

Uma das soluções desenvolvidas foi a Plataforma de Pagamentos Digitais para feiras agrícolas rurais, requisitada pela International Development Enterprises (iDE Moçambique), uma organização não-governamental (ONG) norte-americana que promove o aumento sustentável da renda dos pequenos agricultores nas zonas rurais.

No âmbito das suas actividades, a iDE Moçambique passou a apoiar as populações afectadas pelo ciclone IDAI, na zona Centro, no processo de produção agrícola, através da alocação de extensionistas e realização de feiras rurais, juntando, no mesmo local, agricultores e fornecedores de insumos.

Nas feiras rurais, antes de se digitalizar o processo, os produtores recebiam vouchers em papel, que eram usados para pagar aos fornecedores de insumos cada vez que se efectuava uma compra. No fim, os fornecedores apresentavam os vouchers recolhidos à iDE Moçambique, que fazia a contagem manual e o respectivo pagamento.

Convidada, a Ologa digitalizou todo o processo, introduziu e distribuiu telemóveis a todos os fornecedores, para além de cartões digitais (NFC) aos agricultores, carregados com o dinheiro virtual. Assim, cada compra passou a ser efectuada e registada através de um simples toque do cartão NFC no telemóvel, e no final da feira o sistema calcula automaticamente as vendas feitas por fornecedor, recebendo este imediatamente o valor referente às suas vendas.

“A digitalização tornou mais fácil a monitoria de todo o processo, que era manual e envolvia muito papel, e, por isso, permeável à corrupção e burlas. A solução por nós desenvolvida teve um grande impacto”, sublinha. 

A Ologa desenvolveu, também, uma plataforma electrónica de apoio à criança, que é utilizada por algumas ONG e instituições públicas, tais como a FHI360, financiada pela USAID, N’weti, Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), Ministério do Género, Criança e Acção Social (MGCAS), entre outras.

Denominada eMAC (Matriz de Avaliação da Criança), a plataforma permite o registo de crianças órfãs e vulneráveis, seus agregados familiares, assim como o levantamento das necessidades com base em metodologias internacionais. Posteriormente, é desenhado um plano de acção com base nas prioridades identificadas.

“Por exemplo, no distrito de Jangamo, província de Inhambane, o MGCAS conseguiu perceber, através da plataforma, que havia um grande défice de habitação adequada, o que permitiu priorizar os esforços para campanhas de melhoria de casas para as crianças desfavorecidas”, conta.

Diferencial no mercado

Mulweli Rebelo considera que a Ologa destaca-se no mercado pelo facto de conhecer o ecossistema moçambicano, particularmente nas zonas rurais e recônditas, bem como por dispor de uma equipa que actua em todas as fases do processo (análise das necessidades, desenvolvimento e implementação das soluções e o acompanhamento).

Mais do que isso: “Nós procuramos desenvolver soluções completamente inovadoras e diferentes das de muitas empresas, que se limitam a sistemas de gestão e contabilidade. A Ologa procura fazer diferente”, realça.

Impacto da Covid-19

Quando se fala da pandemia da Covid-19, muitas empresas associam-na, e com razão, à crise. Entretanto, Mulweli Rebelo revela que, para a Ologa, foi uma fase de muitas oportunidades, uma vez que a maior parte das instituições requisitou os seus serviços.

“O impacto, para nós, traduziu-se na dispersão do pessoal para responder a necessidades associadas à gestão dos próprios projectos. O trabalho remoto teve algum efeito negativo nos prazos de implementação e na qualidade de alguns projectos, mas foi uma grande oportunidade para explorar a tecnologia. No caso das feiras organizadas pela iDE, a digitalização tornou possível a continuidade das feiras pois evitou o contacto físico do papel, reduzindo o risco de contaminação”, diz.

Desafios

À semelhança das outras, as empresas do sector de tecnologias ainda enfrentam muitos desafios para se impor no mercado pois “temos um sector perturbado por não estar bem enquadrado, principalmente porque o processo de procurement é complicado.

Perspectivas

A concessão da licença à firma norte-americana Starlink (internet via satélite) para operar no País vai ter um grande impacto nos projectos rurais, considera Mulweli Rebelo, que está a aprimorar os seus conhecimentos para implementá-los nas tecnologias Blockchain e Bigdata. “Vamos ter informação agrícola, meteorológica, entre outras. Vamos, também, passar a fazer a análise dessa informação para que seja útil”.

Áreas de actuação

Gestão de projectos informáticos, sistemas de segurança integrados, websites e marketing nas redes sociais, assistência técnica informática, internet via satélite, desenvolvimento de software (como o Suretrack/eMAC, concebido para auxiliar projectos sociais ou de saúde na melhoria da monitoria, avaliação e gestão dos programas), entre outros.