TATOS BOTÃO

Hidrocarbonetos, prestação de serviços, economia, Tatos Botão
12 de julho de 2022

Uma resposta às necessidades da área ferroviária e de hidrocarbonetos

A implantação de grandes projectos no País, ligados, na sua maioria, às áreas extractiva e de hidrocarbonetos, tem sido motivo de entusiasmo em diversos sectores da sociedade dado o seu potencial para desenvolver e diversificar a economia. Entretanto, o sector privado tem se queixado da falta de oportunidades dada a complexidade dos requisitos impostos para a sua participação nesses empreendimentos, através do fornecimento de bens e prestação de serviços.

É verdade que se trata de uma realidade que não pode ser ignorada, mas é necessário realçar que há empresas nacionais que conseguem impor-se no mercado, transpondo estes (e outros) obstáculos, e, acima de tudo, prestando serviços de qualidade.

Na cidade da Beira, capital da província de Sofala, está sedeada uma empresa que se dedica à construção e manutenção de vias férreas e outras infraestruturas, e que introduziu, recentemente, no seu portfólio a construção e manutenção de infraestruturas da indústria de petróleo e gás, incluindo a testagem não destrutiva, nomeadamente ultrassom, Raio X e líquidos penetrantes.

Trata-se da Tatos Botão, criada em 2008, por Felisberto Botão, engenheiro civil com especialização em Engenharia Ferroviária, na Índia. Numa primeira fase, a empresa actuou na área imobiliária, tendo-se, posteriormente, “aventurado” para o sector ferroviário em resposta a uma oportunidade colocada por uma multinacional brasileira, ligada à exploração do carvão mineral no distrito de Moatize, em Tete.

“Estamos a falar da construção do Terminal de Carvão do Porto da Beira. Em 2011, a empresa convidou-nos a abraçar um projecto de montagem de linhas férreas. Devo confessar que, naquela altura, a empresa teve uma postura diferente da que muitas multinacionais apresentam hoje em dia. Apresentaram-nos as oportunidades que existiam e trabalharam com a nossa equipa na estruturação dos padrões necessários para a execução do projecto”, conta Felisberto Botão, fundador e actual director-geral.

O projecto em alusão, segundo Felisberto Botão, foi bem executado, o que serviu de trampolim para o crescimento da empresa. “Reinvestimos o que ganhámos e assumimos a sério o negócio na área ferroviária. A partir daquele projecto, construímos a capacidade necessária, e começámos a firmar novos contratos e a executar projectos ferroviários em Tete, Beira, Nampula, entre outros locais. O suporte que a multinacional deu, na adequação da nossa empresa perante as oportunidades disponibilizadas, foi determinante para o crescimento da empresa. Este é o posicionamento certo de uma multinacional num mercado local”.

Evolução…

Actualmente, a Tatos Botão oferece soluções especializadas de manutenção de infraestruturas nas componentes ferroviária e de petróleo e gás, com representações em Maputo, Beira e Nampula, apesar de prestar serviços em todo o País, e pretende ser um centro de soluções e inovação, na manutenção de infraestruturas nas indústrias onde actua. E no caso de implantação ou renovação de infraestruturas com padrões altos de exigência, ser o parceiro local preferencial.

Para atingir este estágio, Felisberto Botão diz ter sido determinante a oportunidade que teve no projecto de construção da Terminal de Carvão do Porto da Beira. “Tivemos a sorte de começar com uma multinacional brasileira, que tem uma postura muito diferente das europeias e norte-americanas. No lugar de exigir certificações, normas, etc, colocaram à nossa disposição procedimentos de qualidade necessários para executar o trabalho e responder aos padrões de qualidade, prazos, entre outros. Estas multinacionais têm uma postura diferenciada com relação ao apoio ao Conteúdo Local, mesmo sem nenhuma imposição da legislação.”, explica.

No âmbito do projecto, a (a equipa da) Tatos Botão passou por treinamentos e teve, durante a execução, acompanhamento pois impunha-se o cumprimento rigoroso dos padrões de segurança, qualidade e prazos.

“Tratando-se de um projecto de grande dimensão, conseguimos facturar o razoável para investir, adquirindo equipamento, reforçando os recursos humanos, assim como adoptamos muitos dos padrões que nos foram transmitidos como exigências para executar o projecto. Ou seja, adoptámo-los como nossos padrões de actuação no mercado, o que fez muita diferença na nossa forma de estar”, sublinha.

E não é para menos. Hoje a empresa transformou-se em sociedade anónima, passou a designar-se TATOS, SA, uma sociedade anónima, com ambições de deixar de ser uma empresa familiar, abrindo, dessa forma, o seu capital para o público, pois acredita estarem criadas as condições para tal.

Exclusão nas multinacionais

O nosso interlocutor considera haver, no mercado, alguma “pressão” para excluir as empresas nacionais sob o argumento de falta de capacidade, contabilidade não organizada, entre outros argumentos, que, para si, penalizam em grande medida o empresariado nacional e a economia nacional.

“Estamos num mercado onde tanto as empresas que demandam os serviços e as provedoras (desses serviços) são, maioritariamente, multinacionais. Isso quer dizer que há muitos estereótipos à volta das empresas locais, tirando destas a oportunidade de aprender fazendo, para construir a capacidade para o amanhã. Os negócios de grande capital estão a ser repassados para empresas estrangeiras, o que é mau para o mercado e para o País”, afirma.

Mas este não é o único aspecto que preocupa o empresariado nacional, segundo Felisberto Botão. A sequência de eventos naturais que têm assolado o País, assim como a pandemia da Covid-19 constituem outro “nó de estrangulamento”.

“No nosso caso (e da cidade da Beira), tivemos o ciclone Idai e depois a Covid-19, que descapitalizaram as empresas e reduziram a sua capacidade de actuação no mercado. As soluções de moratórias oferecidas pelo sistema financeiro, no lugar de aliviar, na verdade, colocou muitas empresas em condições muito mais difíceis, sendo a restruturação dos financiamentos um desafio importante”, refere.

 

Projectos relevantes

Desde a sua criação, em 2008, a empresa criada por Felisberto Botão já executou, em diversos pontos do País, projectos estruturantes para economia nacional, concretamente nas áreas ferroviária e portuária, assim como na emergente indústria de petróleo e gás, dos quais se destacam os seguintes:

Cidade da Beira: montagem de linhas de descargas e empilhamento de carvão no Terminal de Carvão, construção do braço de carga para navios e de infraestruturas de suporte.

Distrito de Moatize: construção das linhas ferroviárias no interior da mina, onde estão as estacas de carvão.

Porto de Nacala: construção das linhas de empilhamento de carvão e das oficinas para as locomotivas.

Distrito de Namialo: renovação das linhas ferroviárias e montagem da linha de desvio para a pedreira local.

Fábrica de alumínio (Maputo): renovação das linhas aéreas de circulação das pontes rolantes.

Porto da Matola: renovação das linhas de guindastes que transportam o carvão para os navios.

Indústria de Petróleo e Gás: renovação dos sistemas de combate a incêndios, sistemas de válvulas e reparação da tubagem no Terminal de Combustíveis do Porto da Beira, reparação de válvulas, testagens para verificação da integridade dos tanques e da tubagem de combustíveis, no terminal da Glencore, verificação da tubagem e dos tanques no terminal da Oiltanking, entre outros.